Voluntariado em Moçambique

Novembro 3, 2016

Do Rio dos Bons Sinais ao Monte Tumbine

Por Ana Palmar


É difícil resumir a experiência com as MDR na Zambézia, Moçambique, tudo o que tenho tentado escrever soa a incompleto. Talvez porque mais do que uma experiência, é vivência, desde as coisas pequenas e rotinas até às dificuldades e às grandes alegrias e conquistas.

 

No entanto, devo partilhar que se comprovou aquilo que me cativou a partir com as MDR: “Em qualquer parte do mundo há um sítio para ti.”.

Tive a graça de estar em duas comunidades, com acções tão diferentes como os locais onde se inserem: uma próxima do prometedor Rio dos Bons Sinais, em Quelimane, e outra sob a alçada do Monte Tumbine, em Milange. Ambas me enriqueceram, não só pelo que recebi, mas principalmente pelo que dei pois, além da gratificação inerente à dádiva, descobri em mim características que desconhecia. Com estas «vidas em missão» descobri que às vezes “basta” estar presente e disponível, para fazer (o) bem. Outras vezes o melhor é confiar, afastarmo-nos (rompendo com a necessidade de fazer e participar activamente) e deixar as coisas acontecerem como têm que acontecer.

É ainda importante transmitir que aqui se tornou mais evidente que as dificuldades me aproximam de Deus (e de mim), mas também agudizam a necessidade do irmão, valorizando ainda mais a bondade alheia. Experimentei que, entregando realmente a missão «a seu dono», apesar de muitas vezes me faltarem as forças e o conhecimento (enquanto me sobravam alguns receios e a ignorância), não me faltaram o ânimo e a esperança, que renasciam todos os dias. E assim, ainda que quase todas as actividades fossem novidade para mim e existissem obstáculos, fui preserverando e sendo inspirada a fazer e dizer o que era necessário naquele momento.

Fui ainda abençoada por testemunhar que, tal como muitas gotas fazem um oceano, a união de donativos (por muito pequenos que pareçam a quem os dá) conseguem mudar a vida de uma comunidade e de uma família. Na primeira, revitaliza e fortalece o sentido de comunhão e estimula à responsabilidade partilhada, na segunda, recupera laços familiares e devolve a dignidade de um lar e a esperança de um futuro.

Afinal, consigo resumir tudo no que digo diariamente… ninoutamala Mulugu, zicomo Ambuyé, obrigada Abba! Por me teres encaminhado para as MDR e para Moçambique, pelas pessoas boas e pelas difíceis de amar que colocas no meu caminho, por cuidares de quem ficou, por sentir felicidade “por nada”, por me permitires estar aqui e agora em Caombe, junto ao Monte Tumbine depois de descobrir uma vida nova no Rio dos Bons Sinais.

23 de outubro de 2016