Testemunho da voluntaria …

Abril 29, 2012

Descrição: DSC04276Pela segunda vez e em dois anos consecutivos, tive o privilégio de vivenciar, na função de Voluntária, o carisma e o trabalho das Irmãs Missionárias do Rosário em Moçambique. No ano passado estive quatro meses e meio no Bairro das Mahotas, em Maputo, e neste ano, durante as minhas férias, no Bairro de Chirangano em Quelimane, coincidindo com o lançamento do livro KULUNGWANA: MULHERES NA PRIMEIRA PESSOA, ocorrido no dia 30 Julho 2011 no ISMMA, em Maputo.

Estive para as Irmãs e com as Irmãs e as suas comunidades mais pobres e vulneráveis, com a minha disponibilidade temporal, afectiva e mental; o meu saber fazer; a minha grande curiosidade de tudo observar, questionar e deixar-se espantar e, principalmente, o muito querer aprender com o Bom Ser e Bem Fazer dos outros, principalmente das Irmãs, das Manas noviças, das Mamãs do Centro Social Flori e dos Trabalhadores da Escola de Solidariedade do Chirangano, das outras Voluntárias e de todos os outros, principalmente Mulheres, que aqui deixo anónimas, ainda que cada uma tenha um lugar especial e único na minha vivência de Voluntária Missionária. Vivência muito enriquecedora: espiritual, cultural e humanamente.

  Vivenciei que a pobreza é uma questão social, estrutural e massiva e que pobres são classes, massas e povos inteiros. As Irmãs trabalham com os pobres, sem que sejam os Lázaros da vida, encorajando-os nas suas lutas desiguais, dignificando-os e apoiando-os na sua resiliência, não separando a sua situação económica das suas condições sociais e das estruturas que as situam e definem. As Irmãs vêem as árvores, os indivíduos concretos e cada situação específica, mas não deixam de ver a floresta, intervindo na mudança desta sociedade que é um fenómeno social produzido, principalmente, pelo paradigma económico perverso, opressivo e eticamente injusto, em que vivemos, localmente (Mahotas, Chirangano, Inhassoro, Milange…), nacionalmente (aqui em Moçambique) e internacionalmente e que reclama um projecto social alternativo.

O fenómeno da pobreza de hoje não tem a mesma natureza do passado. Hoje já não é só sinónimo de ausência material nem tem como causas só as exógenas, associadas ao colonialismo ou políticas externas. Hoje, aqui a pobreza é também endógena, associada à corrupção que permite que os ricos se tornem mais ricos à custa do crescimento exponencial da miséria dos mais pobres, impedindo que haja oportunidades para todos, desencorajando cada um a querer ser outro e matando os seus sonhos. Faz-me lembrar a sábia frase de Mia Couto: “ Confrontados com a ausência de tudo, os Homens abstêm-se do sonho, desarmando-se do desejo de serem outros. Existe no nada essa ilusão de plenitude que faz parar a vida e anoitecer as vozes”.

Actualmente, numa globalização onde a humanidade atingiu tão elevado desenvolvimento técnico-científico e cultural, as Irmãs, pela sua presença, vida ao serviço dos outros e oração, trabalham para a criação de uma sociedade mais justa, onde não haja mais privações do necessariamente vital a todos os seres humanos,  nem a dominação de uns pelos outros e onde a caridade seja essência. Trabalham com os pobres, principalmente mulheres e crianças, a partir dos seus conhecimentos, das suas capacidades e das muitas potencialidades, sendo fermento e fazendo do pequenino algo de muito grande, por isso muito significativo, construtivo e sustentável. Faz-se caminho, caminhando com autonomia, responsabilidade, alegria de viver, liberdade, querer, fazer e conquistar, ao mesmo tempo que se evangeliza e se vivencia as palavras de Cristo que muito conforto, segurança e tranquilidade também a mim me deram.

Reforcei laços (feitos de capulana!), que simbolizam o enlaçado do muito carinho e admiração que por todas Vós tenho e o meu enlaçado à vossa causa e a todos os vossos projectos Humanos. Sinto-me sempre concha, por Deus abençoada e por Vós protegida, nobremente acolhida e enaltecida; sentindo o Baptismo de Cristo em cada dia que convosco passo; em cada gesto; em cada ensinamento; em cada sorriso e em cada pessoa que por Vós é tocada, tal como eu.

VIVER JESUSMENTE. É esta a prática que tive o privilégio de encontrar no dia- a dia do trabalho das Irmãs e que muito me contagiou,  emocionou e fez-me sentir muito bem e sentir Deus comigo em todos os momentos.

KANIMAMBO.

Maria Clara Silva