Quaresma o tempo novo

Março 4, 2014

Muito queridas Irmãs.

Há bem poucos dias celebramos a Festa da Beata Ascensão Nicol. Foi um dia em que toda a Congregação, e nós Província, exultamos e,  tornamos  presente as nossas raízes.

Hoje  convido-vos  a um novo caminho: Deixar-mo-nos  transformar pelo amor é fonte de uma vida nova. Com a Quarta-Feira de Cinzas, damos   inicio a um novo caminho da nossa vida Consagrada,  a « QUARESMA».

A Quaresma é, como há muito sabemos, um tempo de  conversão. Esse é um tema que jamais perde  a sua atualidade na vida cristã, por isso queremos mais uma vez refletir sobre ela. A imposição das cinzas – com a Igreja iniciamos  a nossa preparação para a celebração solene do Tríduo Pascal -, não pode ser um gesto formal, folcloríco, mera tradição. Ele deve ser expressão de um compromisso de deixar-se moldar pelo Espírito Santo para a conversão pessoal e comunitária.

A Quaresma é este tempo novo, não nosso, de fazer um verdadeiro jejum na nossa vida. Jejuar não é deixar de comer hoje para comer amanhã. De nada nos valeria. Jejuar é olhar para a nossa vida, para a nossa casa e para a nossa mesa, até perceber que tudo é dom de Deus, não apenas para mim, mas para todos os seus filhos e nossos irmãos, e, agir em consequência, partilhando com todos a nossa  vida.

Há uma história, que se conta, que um dia um visitante  estrangeiro foi visitar o famoso rabino polaco Hofez Chaim, e ficou espantado quando viu que a casa do rabino era apenas um simples quarto cheio de livros,  e os únicos móveis eram uma mesa e um pequeno banco. «Mestre, onde estão os teus móveis?» , perguntou o visitante. «E os teus onde estão?», retorquiu o rabino. «Os meus? Mas eu sou um visitante; aqui apenas de passagem», respondeu o visitante. «Também eu», retorquiu o rabino.

Sim, convenhamos  acabámos de assistir a uma eloquente lição de «renúncia» aos bens terrenos. Mas fácilmente nos apercebemos que o termo «renúncia», hoje nesta cultura de  «Laodiceia» em que vivemos, e que obedece ao refrão «sou rico», enriqueci, e não preciso de nada» (Apocalipse 3, 17), está claramente fora de moda e resulta incompreensível. «Deixar é perder»,  repetem tranquilamente os maus mestres.

Mas o Mestre, que é Jesus, ensina-nos a «renunciar» às coisas e até a nós mesmos, às nossas gorduras materiais e espirituais. «Renunciar» é «dizer não». Aos pesos que atrapalham a suavidade e a leveza que nos configuram ao Mestre (Mateus 11,28-30).

Desejo a todas e cada uma das irmãs uma boa Quaresma. Nos veremos no dia 11 de abril ao jantar

Com  carinho.

Lisboa, 28 de fevereiro de 2014

Irmã Adelaide Varanda