Muito queridas Irmãs.
Há bem poucos dias celebramos a Festa da Beata Ascensão Nicol. Foi um dia em que toda a Congregação, e nós Província, exultamos e, tornamos presente as nossas raízes.
Hoje convido-vos a um novo caminho: Deixar-mo-nos transformar pelo amor é fonte de uma vida nova. Com a Quarta-Feira de Cinzas, damos inicio a um novo caminho da nossa vida Consagrada, a « QUARESMA».
A Quaresma é, como há muito sabemos, um tempo de conversão. Esse é um tema que jamais perde a sua atualidade na vida cristã, por isso queremos mais uma vez refletir sobre ela. A imposição das cinzas – com a Igreja iniciamos a nossa preparação para a celebração solene do Tríduo Pascal -, não pode ser um gesto formal, folcloríco, mera tradição. Ele deve ser expressão de um compromisso de deixar-se moldar pelo Espírito Santo para a conversão pessoal e comunitária.
A Quaresma é este tempo novo, não nosso, de fazer um verdadeiro jejum na nossa vida. Jejuar não é deixar de comer hoje para comer amanhã. De nada nos valeria. Jejuar é olhar para a nossa vida, para a nossa casa e para a nossa mesa, até perceber que tudo é dom de Deus, não apenas para mim, mas para todos os seus filhos e nossos irmãos, e, agir em consequência, partilhando com todos a nossa vida.
Há uma história, que se conta, que um dia um visitante estrangeiro foi visitar o famoso rabino polaco Hofez Chaim, e ficou espantado quando viu que a casa do rabino era apenas um simples quarto cheio de livros, e os únicos móveis eram uma mesa e um pequeno banco. «Mestre, onde estão os teus móveis?» , perguntou o visitante. «E os teus onde estão?», retorquiu o rabino. «Os meus? Mas eu sou um visitante; aqui apenas de passagem», respondeu o visitante. «Também eu», retorquiu o rabino.
Sim, convenhamos acabámos de assistir a uma eloquente lição de «renúncia» aos bens terrenos. Mas fácilmente nos apercebemos que o termo «renúncia», hoje nesta cultura de «Laodiceia» em que vivemos, e que obedece ao refrão «sou rico», enriqueci, e não preciso de nada» (Apocalipse 3, 17), está claramente fora de moda e resulta incompreensível. «Deixar é perder», repetem tranquilamente os maus mestres.
Mas o Mestre, que é Jesus, ensina-nos a «renunciar» às coisas e até a nós mesmos, às nossas gorduras materiais e espirituais. «Renunciar» é «dizer não». Aos pesos que atrapalham a suavidade e a leveza que nos configuram ao Mestre (Mateus 11,28-30).
Desejo a todas e cada uma das irmãs uma boa Quaresma. Nos veremos no dia 11 de abril ao jantar
Com carinho.
Lisboa, 28 de fevereiro de 2014
Irmã Adelaide Varanda