Porque amo a Vida Consagrada

Fevereiro 4, 2015

2 de fevereiro de 2015

Este dia do Consagrado pode bem servir-nos de motor e inspiração para vivermos, de modo intenso e profundo, cada dia deste ano, profeticamente apresentado e proclamado a toda a Igreja,  pelo Papa Francisco, “Ano da Vida Consagrada”. 

Quando recebemos algumas propostas para a celebração do presente Ano, era-nos solicitado – embora o lógico seria não se sentir a necessidade de se fazer esse apelo –  que participássemos de modo ativo.  Há uns poucos meses atrás celebrei as Bodas de Ouro de Profissão e senti e sinto que é uma celebração que exige continuidade.

 

Estas duas razões, além de outras, levam-me a sentir como que “obrigação” de partilhar e de colaborar, concretamente na rubrica, “olhares consagrados”. Escolhi como tema: “porque amo a Vida Consagrada”.

Faço-o com toda a simplicidade e humildade, porque sei que não vou dizer nada de especial, nada de novo, nada bem escrito…penso, porém, que nada disso pode ser condição, pois, o importante é partilhar a vida, o que se reflete, o que se ama.

Começaria por dizer que amo a Vida Consagrada porque ela é: Consagração, Beleza, busca do Absoluto.

Com a “Consagração” assumimos nas nossas mãos, no nosso coração, toda a nossa vida, tudo quanto somos e temos e dizemos: aceita-o, Senhor! É tudo teu! Esta entrega total, sincera, livre, gozosa, permite-nos experimentar a liberdade, a confiança, o abandono a comunhão com Ele!…Como o nosso amor é Ele, o desprendimento de tudo daquilo que não é essencial, torna-se mais fácil e disponibiliza-nos para amar a todos e sempre. No entanto, e ao estilo de Jesus, dá-nos como uma predileção especial para os mais pobres, os que mais precisam. Faz-nos ter a sensação que todo o nosso tempo, toda a nossa vida, todas as nossas capacidades, e ação não têm outra finalidade, senão Ele, e isto faz-nos sentir úteis, realizadas, fecundas, felizes… E o bom é que isto pode acontecer, mesmo na idade muito avançada, tal como acontecia com ANA, do Evangelho de hoje, que servia a Deus noite e dia e  se dedicava a anunciar o MENINO a toda a gente que esperava a salvação.

A gratuidade é, entre outras, uma componente da“Beleza”. É  bom, é belo, quando recebemos algo de alguém, – e se for em circunstâncias especiais, melhor ainda -, e esse alguém não exige, não aceita nada em troca! Como isso mexe connosco e lhe ficamos gratos! A vida consagrada, a ser verdadeira, é uma vivência continuada da gratuidade. Existimos para ser para os outros! Onde melhor isto se pode experimentar  – se calhar é mais certo dizer-se, ´onde melhor se devia de experimentar isto´ – é na vida da comunidade. Somos para os outros, mas acabamos por não nos faltar nada! Será a concretização da afirmação de Jesus: “quem deixar pai, mãe, bens… recebe 100% já nesta terra e depois a vida eterna”?!.. Realmente juntando todas as potencialidades de cada um, como isso forma um “montante comum”, um tesouro impensável… Oxalá nos habituássemos a agradecer, cada dia, o DOM da comunidade e esse agradecimento se transformasse em compromisso da construção da mesma! Uma mais valia a destacar do referido “montante comum”, sobretudo numa Congregação missionária e internacional, é a possibilidade de se experimentar o que é, verdadeiramente, a fraternidade universal. Não sei se haverá alguma outra instituição que o possa possibilitar mais e melhor.

A Vida Consagrada é, talvez, o melhor “sinal” até agora encontrado, para “dizer” da sede do“Absoluto”, de infinito, do anseio dum novo céu e duma nova terra, que todo o ser humano tem gravado bem dentro de si. Pode dizer-se que a VC é como uma “parábola” que contém a imagem do que se deseja e ao mesmo tempo aponta o caminho a seguir. Se, por um lado, isto imprime à VC uma missão especialmente grande e bela, por outro, fala-nos da enorme responsabilidade que isto supõe. Quase assusta pensar nas consequências desastrosas que esse “sinal” pode trazer, se não for claro e não estiver bem orientado!… Que alívio e que bom é pensar que o Espírito tem sempre outras alternativas, outras saídas… Logo após o Concílio usou-se muito uma expressão, agora já quase esquecida, que dizia muito bem o sentido da passagem da humanidade e da VC no agora da história. Dizia-se: “vivemos agora o , mas o ainda não” do que será a vida futura. Eu acho que esta expressão, além da componente fortíssima de esperança que encerra, desperta em nós, também, uma urgência que não nos deixa parar, enquanto não se fizer o que ainda falta fazer. Todo o empenho, todas as energias, todas as ações, são poucas para o tamanho dessa missão, a missão da construção do Reino de Deus. Nunca, nunca nos falta trabalho. Faltam é mãos, e gente generosa e entregue…

Amo, ainda, o passado da VC porque ninguém, ninguém, pode negar ou não reconhecer a “obra”, o “património” que os consagrados que nos precederam,  deixaram a favor não só da Igreja, como da humanidade…

Amo especialmente o presente da VC, apesar dos seus (aparentes?) sinais depressivos e dolorosos, pelos enormes e estimulantes desafios – às vezes até nos aparecem como quase impossíveis -, que a Igreja, e realidade de hoje nos lança. São desafios que exigem audácia, mudança, busca, escuta, oração, humildade…Exigem que perscrutemos os sinais de Deus, que tenhamos os olhos e o coração abertos, que saiamos das nossas comunidades, comodidades e estruturas, para ouvir e escutar melhor…que não tenhamos medo de iniciar algo novo, mesmo com as nossas idades e com os nossos números reduzidos. Não são os desafios que estão sempre grávidos da vida nova, da esperança, da alegria?…Estes tempos atuais, pois,  “não só valem a pena como valem a alegria”

Amo a VC do futuro porque apesar dos sinais que anunciam que algo novo está já a surgir, serem ténues, esses sinais existem e, se calhar, são mais abundantes do que pensamos. O Evangelho de hoje diz que o velho Simeão, que era conduzido pelo Espírito Santo, – aqui está, sem dúvida, o segredo! – conseguiu vislumbrar, ou melhor, ter a certeza, que levantava nos seus braços a LUZ das nações, o SALVADOR do mundo. Estive atenta a ver se o Evangelho falava de algum sinal visível em que Simeão se pudesse fundamentar, e não consegui ver referenciado nenhum.

OBRIGADO, PAPA FRANCISCO!