Pequenas flores que vão nascendo no meio do deserto

Abril 29, 2012

 

Ata do encontro da CJP-CIRP – Bairro das Fonsecas

No dia 25.01.2012, às 10h00, teve lugar a reunião da ComissãoJP no Bairro das Fonsecas e Quinta dos Barros, onde vive uma pequena comunidade de inserção das Irmãs Teresianas. Participaram as Irmãs Júlia Barroso, Aida, Deolinda,  Helena Moderno, Maria do Carmo Bogo e  os padres Luca e Valentim. Foi nossa guia a Ir. Júlia Barroso, que nos acompanhou numa v isita ao bairro, explicando a sua história desde os tempos em que o local era ocupado por barracas, passando pelo pós-25 de Abril e a construção de dois blocos de habitação cooperativa, até aos nossos dias com a construção de um novo bloco de habitação social por parte da Câmara de Lisboa.

Constatamos que a história do bairro se vai construindo a partir de uma realidade de marginalização geográfica, social e económica, no meio de muitas vicissitudes e no desconhecimento por parte da generalidade das pessoas e instituições da realidade que ali se vive. Até em termos eclesiásticos a descoberta deste bairro como parte da Paróquia do Campo Grande só se verificou durante a primeira década de 2000.

Tanto os dois primeiros blocos do modelo cooperativo como o último propriedade da CM de Lisboa, obedeceram a interessantes projectos de espaços de encontro e de convívio. Foram realizados com esse objectivo, mas constatamos que antes, como agora, a população não foi capaz de corresponder às oportunidades que lhe foram oferecidas: os espaços não foram utilizados para isso, tornaram-se espaços de insegurança e sensíveis à degradação material. Esta situação explica-se pelo facto de se tratar de pessoas vindas das mais diversas partes do país, de fracos meios económicos, de acentuado nível de iliteracia e de ausência de forças organizadas e capacitadas para criarem entre elas o sentido da comunidade activa.

Os moradores do primeiro bloco, no pós-25 de Abril conseguiram ter alguma capacidade de organização, o que explica  apesar de tudo alguma dinâmica comunitária. Há uma associação de moradores com um espaço de convívio-bar e recinto desportivo. A partir do momento em que a Igreja “descobriu” o lugar e começou a fazer alguma aproximação às pessoa, começou a esboçar-se alguma dinâmica de maior humanização. A presença da pequena comunidade das irmãs teresianas foi um elemento determinante para isso, tendo em conta o espírito do projecto dessa comunidade: não vir para fundar uma obra no sentido habitual do termo, mas simplesmente para estarem iguais entre iguais, mas segundo o espírito do Evangelho.

Com as irmãs ali – são três neste momento – foi irradiando uma força agregadora e, nessa pequena comunidade foi aparecendo um espaço de confiança e humanização. Acolher as pessoas em casa, fora da habitual ordem conventual, escutá-las, encaminhá-las e eventualmente acompanhá-las traz uma dimensão de humanidade frequentemente ausente das vidas desestruturadas, sem laços, com baixo nível de autoestima e por vezes em total resignação ou dependência. Provavelmente essa presença terá provocado mais atenção por parte da autarquia e da Paróquia do Campo Grande. Foi disponibilizado um espaço devoluto e que agora é gerido pelo Centro Social Paroquial do C.G. Também ultimamente foi disponibilizado o R/C de um lote onde diversas actividades são levadas a cabo para formação e ocupação de tempos livres.

São pequenas flores que vão nascendo no meio do deserto.