Nota da Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP)

Setembro 25, 2019

A esperança tem duas filhas lindas, a indignação e a coragem: a indignação nos ensina a não aceitar as coisas como estão; a coragem, a mudá-las. (Santo Agostinho)

Assistimos, consternados, à notícia da violação e assassinato de uma religiosa em S. João da Madeira. Esta religiosa dedicava a sua vida ao serviço dos pobres e marginalizados. Este crime não se passou na Síria em guerra, ou no Iémen ou em outro país não-europeu em guerra. Foi entre nós, “dentro de portas”! A comunicação social abordou um pouco a medo este crime que não foi assunto de abertura dos telejornais. Por outro lado a lentidão e burocratização da justiça é-nos sobejamente conhecida: o mandato de detenção do criminoso não foi efectivado a tempo, apesar de uma tentativa de violação anterior. Estranhamente as organizações de mulheres e de apoio às vítimas de violência – doméstica ou outras  – pouco disseram. No entanto tratou-se de um cruel feminicídio.  

Constatamos que tem havido um silêncio penoso sobre este crime – salvo raras exceções – e perguntamos intimamente quais as razões deste silêncio: “lavamos as mãos” da nossa responsabilidade individual e coletiva, como fez Pilatos?

A irmã  Maria Antónia Pinho – da congregação das Servas de Maria Ministras dos Enfermos – estava ao serviço da Igreja Católica numa missão evangélica, implicada nas questões da Justiça e da Paz no seu contexto de ação. Ao serviço, também, da sociedade civil e dos mais marginalizados.

A CNJP (Comissão Nacional Justiça e Paz) – na sua missão de alertar os cristãos e a sociedade civil –, e solidária com a direção da CIRP (Conferência dos Institutos Religiosos em Portugal) e da sua Comissão para a Justiça, Paz e Ecologia,  quer lembrar aos homens e mulheres cristãos (e a todas os cidadãos de boa vontade) que a função de qualquer governo e das instituições da sociedade civil é estarem ao serviço dos cidadãos mais vulneráveis, ao serviço dos que não têm voz (dos “descartados da sociedade”, como afirma o Papa Francisco). Mas, simultaneamente,  devem estar ao serviço daqueles e daquelas que lutam pela justiça e fazem trabalho de promoção humana na solidariedade e na paz – como foi o caso do crime mencionado acima e que podia bem ter sido evitado. E devem fazê-lo sem qualquer discriminação por causa de opções religiosas, origem social, sexo ou orientação sexual, idade, raça ou cultura, e outras.

Devemos à irmã Maria Antónia Pinho e à sua congregação a nossa profunda solidariedade. 

Lisboa, 19 de Setembro de 2019 

 

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