Jovens e Maria

Outubro 3, 2018

Num contexto de testemunho e de mensagem durante a peregrinação a Fátima da Família Dominicana e do Rosário, foi-me atribuída a tarefa de partilhar, em algumas palavras, um pouco da minha visão daquela que é a relação dos jovens com Maria.

 

Desde esse momento, confesso que me atrapalhei um bocadito. Dei muitas voltas na tentativa de elaborar um discurso maduro e eloquente que agradasse a todos. Porém, ao se aproximar o dia dei conta do seguinte: Foram-me cedidos a mim dez minutos para passar uma mensagem a todo um auditório repleto de pessoas riquíssimas em conteúdo, que com certeza saberiam bem mais da vida do que eu e por isso, se dentro daquela panóplia de pensadores, foram atribuir um tempo a um miúdo para falar, é porque provavelmente não estava programado ouvir-se mais que as simples palavras de um miúdo.

Ao contrário do que estava à espera num primeiro momento, foi um tanto quanto complicado para mim encontrar, não as palavras certas, mas sim aquele que é o elo genuíno que eu e tantos outros jovens estabelecemos com esta figura que é Maria.

Ao parar por um tempo para refletir nessa relação, cheguei mesmo a pensar que talvez não houvesse assim tanto para dizer. Que talvez, a relação entre os jovens e Maria, não fosse aquela relação tão vincada e tão íntima como outras que vamos estabelecendo na nossa vida.

Desde sempre, na minha educação católica, Jesus foi-me apresentado como um amigo, um exemplo e um refúgio com o qual eu posso contar em qualquer momento. Desde sempre me disseram que, não importando o sítio onde eu estivesse, bastava sentar-me para que, no silêncio e no meu íntimo, eu pudesse ouvi-lo e ele me pudesse ouvir a mim.

Jesus, por vezes, compara-se àquele amigo da escola com quem talvez não vamos falar à primeira, mas que devido à confiança que depositamos nele, quando falamos, somos capazes de nos abrirmos com a certeza de que ele sempre terá uma resposta para nós.

Já com Maria… Eu acho que com Maria nós não falamos tanto.

Com Maria, nós não nos sentamos e nos esquecemos das horas à conversa.

Com Maria, nós não andamos com aqueles nervosismos típicos para contar um segredinho nosso… Na verdade, nós nem lhe chegamos a contar segredos.

E porquê? Porque na realidade, ela já os sabe todos. Maria é Mãe, nossa Mãe e por isso dispensa mil e uma explicações. A sua perspicácia faz com que ela nos entenda mesmo antes de soltarmos a primeira palavra. A conexão que ela tem connosco faz com que o seu olhar valha mais que todas as coisas que possamos dizer ou querer ouvir. Ela vê-nos e observa-nos e mesmo quando parece que estamos escondidos de todos os olhares, ela está lá com a sua intenção zeladora.

Esta mulher é a mãe de Jesus e escolheu abraçar-nos a todos como filhos. Não há relação mais íntima que essa e eu acho que é isso que os jovens vêm nela. Ainda que por vezes distraídos com outros assuntos ou com outras pessoas, quando paramos para pensar, vemos que é na origem que está a essência e que a esta figura materna, podemos dirigir-nos até na hora em que ao nosso redor, todos parecem falhar para connosco.

Maria é também, e não só para os jovens mas para todos nós, um modelo. Um modelo de fé em Jesus pois, tal como toda a humanidade, teve que aprender a conhecê-lo. Maria é um exemplo de coragem porque mesmo não sabendo, de certa forma, no que se estava a meter, teve a força de dizer que sim.

Esta é o tipo de figura que os jovens precisam de seguir. Uma figura sem medos, e que tal como nós teve que ir descobrindo Jesus e a sua missão. Para além de ser nossa mãe, é alguém que nos vai acompanhar na nossa caminhada de fé, única e exclusivamente ao nosso lado. Atravessando os desafios, as incertezas e os medos que tão frequentemente surgem.

A prontidão desta mulher é urgente entre os jovens que enfrentam hoje um mundo cheio de oportunidades à espera de serem agarradas; É urgente entre aqueles cujo “Sim” vive desaparecido.

Maria é uma mulher que educou, criou, sofreu e viu sofrer e hoje coloca-se perante nós na sua humildade. A humildade de uma mãe que só quer olhar por todos nós e por isso, se há algo que os jovens podem retirar da sua relação com esta mulher, é SEGURANÇA pois estamos a falar de alguém que nos vai acompanhar, ver cair e acima de tudo, ajudar a levantar.

 

Marcelo Coelho
MJD, São João de Ver

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