Entrevista Ir. Adelaide

Julho 10, 2014

Ao longo do mês de Junho recebemos a visita de Ir. Adelaide, Coordenadora Provincial, com é habitual durante o período em que assume este serviço de animação e serviço às comunidades. Na cultura africana receber uma visita é acolher o dom de Deus, por isso nas vésperas do seu regresso a Lisboa, lhe solicitamos nos partilhara as impressões da sua visita

 

1.  Ir. Adelaide, não é a primeira vez que visita às irmãs em Moçambique, que diferenças encontrou no País em relação à sua última visita?

Desde o ano 2010 que passei por Moçambique até este momento, faço um balanço muito positivo. Encontrei bastante diferença no que diz respeito aos meios urbanos; estradas com menos buracos, os aeroportos, com outras condições. Quanto aos meios de transporte, na cidade, os autocarros têm outras condições que não os das periferias. Se vamos para os meios mais pobres das grandes cidades como Maputo, Quelimane, Milanje, Inhassoro, foi onde estive alguns dias e pude observar mais de perto, a situação é outra: existe muita, muita pobreza, nas famílias e populações!

A vida das famílias é mesmo muito difícil. Trabalhar para viver, é uma vida de sobrevivência, trabalha-se para comer, e, ainda são os que o podem fazer… Muito analfabetismo, muita criança sem escolaridade, e muitos jovens sem trabalho

2. Fale-nos da missão que realizam as irmãs nas comunidades

Para os Moçambicanos, uma visita que chega de novo, trás sempre boas notícias, ar fresco. Penso que esta visita foi precisamente isso, trazer algo novo, viver com muita simplicidade, o dia- a- dia, ao ritmo de cada comunidade. Partilhar a vida com as irmãs, alegrias, preocupações e o desejo de ser sempre melhor. Viver estes dias com as irmãs, fez com que os laços familiares se tornassem mais fortes. Todas sentimos que pertencemos a uma grande Família que é a Congregação.

Nestes dias tive a oportunidade de visitar os locais de trabalho das nossas irmãs como, a implementação de Bibliotecas em Milanje, Chirangano e Mahotas, onde encontrar um livro é tão importante, para os estudantes poderem continuar os seus estudos e investigação. Estes locais são muito procurados pelos jovens, para melhorar, aperfeiçoar os seus estudos, onde dão valor a todos os trabalhos ali realizados. São muitos os jovens que passam todos os dias neste local.

Trabalha-se muito na promoção da mulher e da jovem, na Alfabetização, e noutros projectos orientados a favorecer o desenvolvimento das suas capacidades de modo integral, especialmente na formação de grupos de “Poupança e crédito rotativo” e nos “microcréditos”. Também têm programas de apoio a crianças vulneráveis e a famílias afectadas pelo vírus de HIV/SIDA. Paralelamente desenvolvem sessões de formação e conscientização com as participantes nestes programas. Neste momento também acolhem a Voluntários que colaboram nesta missão. As irmãs no seu conjunto são o suporte destas e outras actividades, que precisam de ser acompanhadas.

Visitei também a um Centro de saúde, onde as condições materiais são escassas, e a falta de medicamentos é constante…

Na missão, as irmãs realizam uma pastoral muito alargada. «A messe é grande», missão em que muitas das comunidades cristãs esperam pelo Missionário/a, porque em muitas situações, lugares só os Missionários chegam. É grande desafio para a Vigararia. Pedir ao Dono da Messe que envie trabalhadores para a Sua Messe que são tão poucos!

 

3.  Certamente que conversou com as jovens em formação nas suas diferentes etapas e com as irmãs junioras. Que nos poderia partilhar em relação a estes encontros?

Dos encontros com as jovens, tanto com as juniores como em relação às pré-postulantes e postulantes, faço um balanço positivo. Tudo o que pudemos refletir e partilhar, da parte das jovens houve muita abertura, interesse por saber mais, sobretudo sobre a Congregação. Senti que têm muito interesse em continuar a sua formação, para que um dia cheguem a ser religiosas, Missionárias Dominicanas do Rosário.

 

3. A vida das comunidades cristãs onde as irmãs partilham a sua vida e fé, sempre é uma novidade para as pessoas que nos visitam, terá sido também para si? Em que sentido?

Para mim não foi novidade, uma vez que a minha experiência como Missionária, tem–me permitido viver nas missões.

 O que foi novidade é o empenho das nossas irmãs, ainda que tenham de percorrer quilómetros, não desistem de chegar às Comunidades Cristãs, onde as crianças, jovens e adultos as esperam com muita alegria.  

As comunidades cristãs vivem bem no interior, lugares estes, onde passam por vezes anos, sem a presença de um Sacerdote. Devo ainda dizer, que os Catequistas são os responsáveis e o suporte das Comunidades Cristãs. Todos os Domingos juntam o povo de Deus para refletir e partilhar a Palavra de Deus, são admiráveis…

4. A sua visita acontece logo após a Assembleia Congregacional do mês de Maio passado, à luz do que nela se viveu, que desafios deixa para as irmãs e comunidades?

A Assembleia Congregacional foi de uma enorme riqueza para toda a Congregação. O objetivo geral deste encontro, foi partilhar e avaliar os processos de reestruturação que vivemos desde o Capítulo Geral de 2011, para os seguir implementando, implicando-nos todas, afetiva e efetivamente, para conseguir, hoje, uma melhor resposta à Missão, neste tempo de mudança, que nos toca viver.

Reforçar o sentido de pertença, sentir-nos todas envolvidas, abrir horizontes, escutarmo-nos congregacionalmente.

 Foi um olhar global que nos ajudou a tomar consciência das nossas prioridades, das nossas fortalezas e também daqueles aspetos que devemos trabalhar e melhorar, com espírito esperançado e confiante em Jesus que vai à nossa frente.

O grande desafio é “viver a missão comum na diversidade”, formando entre todas um só corpo, com um olhar contemplativo capaz de atravessar a casca da realidade, mantendo o primado da Vontade de Deus e vivendo com um perfil eucarístico, entregando a vida, como Jesus.

 As atitudes essenciais para viver a mudança como exigência de fidelidade: viver a vida como processo, manter uma fidelidade itinerante, com os olhos fixos em Jesus, sendo memória d´Ele, com um olhar positivo sobre o mundo, em abertura e diálogo com o diferente, assumindo o desafio de experimentar, pois viver de modo crente é viver mudando.

Muito obrigado, Ir. Adelaide, pela partilha fraterna e profunda. Acreditamos que todas as irmãs acolheram “ o dom de Deus” que significou a sua visita.

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