Encontro com Fr. Bruno Cardoré, OP Mestre Geral da Ordem

Abril 29, 2012

Foi pela primeira vez que tivemos connosco o Fr. Bruno Cardoré, OP  Mestre Geral da Ordem, numa celebração Eucarística muito participativa por toda a Família Dominicana

 

Muito queridas Irmãs:  O que é bom deve ser partilhado.

 

Foi pela primeira vez que tivemos connosco o Fr. Bruno Cardoré, OP  Mestre Geral da Ordem, numa celebração Eucarística muito participativa por toda a Família Dominicana. Esta celebração foi animada por um bom grupo de jovens, que tornou belo este momento. O Fr. Bruno um irmão entre os irmãos, muito simples e próximo de todos os que se quiseram aproximar para o cumprimentar.

 

A província de Portugal dos Dominicanos, está neste ano a comemorar o 50º Aniversário da Restauração da Província Portuguesa. Este foi o  motivo da presença  de Fr. Bruno, assim como a reunião dos os Provinciais a nível da Europa (IEOP).
Penso que é motivo para todas nos alegrarmos e dar Graças ao Senhor por todos estes acontecimentos.
Partilho a homilia fez o Fr. Bruno Cardoré, OP, Mestre Geral da Ordem

 

Act 3, 11-26; Lc 24, 35-48)

 

“Não tenho ouro nem prata, mas o que tenho, isto te dou: Em nome de Jesus Cristo Nazareno, levanta-te e anda!”. E, segurando-o pela mão direita, ergueu-o e eis que o coxo de nascença começou a andar.

 

Irmãos e Irmãs, meus amigos, foi esta palavra pronunciada por Pedro à porta do Templo que provocou o acontecimento diante do qual as pessoas ficam estupefactas, dizem-nos os Atos dos Apóstolos. E hoje, no momento em que celebramos o aniversário da província de Portugal, esta palavra pode guiar-nos para dar graças pela vocação de Pregador. Pregar é fazer eco de três tipos de palavras evocadas hoje nos textos da liturgia.

 

É, antes de mais aquela palavra que Pedro dirigiu ao aleijado de nascença. Em nome de Jesus Cristo, caminha. Ora, evidentemente que eu não quero dizer que os irmãos e irmãs da Ordem dos Pregadores têm todos de fazer tais milagres. Aliás, como diz Pedro, este milagre não vem da santidade pessoal deles. Mas, prossegue, “tudo assenta na fé no nome de Jesus: foi este nome que deu força a este homem”. Pregar é, primeiro que tudo, dirigir-se ao homem, da parte de Deus. Fazer eco da Palavra que o próprio Deus quer dirigir ao homem é, antes de mais: ousa viver, não deixes que os obstáculos da vida, por vezes tão pesados te preguem ao chão, não te resignes ao que corrói a tua existência, ao que te esmaga, ao que ergue muros de obscuridade no caminho da tua vida. Levanta-te, caminha e salta, deixa a alegria fazer a sua morada na tua existência, porque Eu estou contigo hoje e amanhã, e para sempre. Eu sou a tua vida. Como é que Pedro teve a audácia, a coragem de se dirigir assim àquele cujo destino parecia definitivamente ser levado, dia após dia, para a porta do Templo para aí pedir esmola? Os Atos dizem-nos que Pedro vinha da casa onde estava reunida a comunidade e que ia, todos os dias, ao Templo. Da comunhão fraterna à oração, da graça recebida e partilhada com os irmãos, à ação de graças a Deus com eles. A Itinerância do pregador é, de algum modo, o percurso deste caminho da graça à graça, caminho no qual, profundamente tocado pela misericórdia de Deus para cada um, nos deixamos. perturbar por um encontro. Vendo o aleijado, olha para ele e fala com ele. E como as palavras são, muitas vezes, desastradas para nos dirigirmos àquele que está a sofrer e está cativo do seu destino, dirige-se a ele naquele espaço misterioso em que todo o ser humano tem a experiência de que é capaz de bondade, que é capaz de amar, porque naquele lugar mais íntimo de si mesmo que ele é próprio, sabe que é protegido por Deus que o tem na sua criação. Nesse espaço, então, Pedro ofereceu ao aleijado aquilo que ele possuía de mais precioso: o nome d’Aquele que ele conhece, em quem acredita, por experiência, que Ele é o seu Salvador.

 

A palavra do pregador é ainda uma palavra de memória. Tanto nos Atos como no Evangelho que escutámos, Pedro e depois Jesus ressuscitado mergulham os seus interlocutores na Palavra da Revelação. O Deus de Abraão, de Isaac e de Jacob, o Deus dos profetas e da Aliança. O Deus da promessa. Hoje diz-se frequentemente – e será deste assunto que falaremos durante este Encontro, a propósito da evangelização na pós-modernidade – que o tempo é doravante como se fosse apanhado no imediatismo do instante. O anúncio da Boa Nova consiste em dizer que o tempo da humanidade se inscreve num tempo que o ultrapassa por todos os lados, um tempo que vem antes dos tempos e vai para a eternidade. Um tempo que vem de Deus e que está prometido que se realizará em plenitude para além do tempo, em Deus. “Ele abriu-lhes o espírito à compreensão das Escrituras” diz o Evangelho. Os pregadores juntaram no coração – e na razão – esta convicção de que lhes é necessário “contar” as Escrituras, porque estas vão abrir-lhes os corações e os espíritos à inteligência da Presença de Deus no mundo. Uma presença que se tem vindo a habituar à humanidade na Pessoa do Filho, a fim de que, por sua vez, a humanidade, se familiarize com o próprio Deus, ou por outras palavras, se habitue a considerar a sua vida como prometida a uma realização que ultrapassa tudo e que essa mesma vida, só ela, poderia imaginar. Afundar-se nas Escrituras, para que a humanidade possa mergulhar em Deus.

 

Surge então uma terceira palavra, como eco desta frase tão simples pronunciada por Jesus ressuscitado irrompendo no meio da comunidade dos irmãos reunida: “a paz esteja convosco” Esta frase, ouvimo-la bem, não é uma simples atitude social. Sim, Jesus deseja a Paz aos discípulos. Mas desta Paz, Ele convida-os a tirar dela todo o verdadeiro sabor, verificando que Ele, o seu Salvador, acaba de percorrer, verificando o caminho que Ele, o Salvador acaba de percorrer: ”vede as minhas mãos e os meus pés. Sim, é, de facto, Ele, o Crucificado. É mesmo o Mestre de quem eles tinham pensado, sem dúvida, que Ele tinha posto definitivamente em causa pelos poderosos que queriam fazer crer que só eles tinham o conhecimento de Deus. É Ele de quem tinham pensado que tinha sido vencido por aquela louca ambição dos homens de dominarem todas as coisas, inclusive até o nome de Deus. E depois, acontece que três dias mais tarde o Pai O libertou de entre os mortos. Ele aceitou defrontar aqueles poderosos para mostrar que só Deus, o Verbo de Deus, poderia encarar o absurdo do sofrimento e da morte sem neles se perder. E que este confronto tinha por objetivo manifestar que só Ele podia dizer em verdade o Nome de Deus. Paz para todos os homens, Paz e vida restituída, renovada, para cada um de nós. Paz para que retiremos desse dom a coragem de nos comprometermos na existência não como um poderoso mas como um irmão. Paz para que a comunhão fraterna, no combate no dia-a-dia, para que a misericórdia vença todas as cadeias do destino, para que esta comunhão fraterna seja, neste mundo, testemunho vivo desta via única, dada.

Sim, pregadores fazendo eco destas palavras, do Encontro, da memória e da Paz. Pregadores da Ressurreição.