COMO CALAR……

Março 25, 2013

O dia internacional pela Eliminação da violência contra a mulher, estabelecido a 25 de Novembro de 2011 pela Assembleia-Geral das Nações Unidas, remete-nos a fitar o olhar nem que seja de relance, aos variados factores da nossa realidade sócio cultural que contribuem para que a mulher seja relegada, nos nossos variados povos, ao último plano, tratada de forma discriminatória e muitas vezes violentada, quer física, quer psicológica quer de forma sexual e até verbal.

 

 

São por nós sobejamente conhecidas, as situações discriminatórias a que estão votadas as mulheres e as suas principais causas, sendo uma delas a relação com o poder que organiza e estrutura as relações sociais entre homens e mulheres, legitimado no modelo social expresso no controlo masculino sobre a família e sobre a sociedade, e até mesmo na religião, cuja consequência directa para a mulher, é a vivência quotidiana da discriminação e da opressão.

Sendo assim, a violência contra a mulher é a nosso entender um problema de poder entre o género humano (homem) que se afirma superior ao outro (mulher), contrariando nitidamente ao estabelecido desde os primórdios da criação, pela ordem natural, segundo consta do livro do géneses (Gn 1, 27-28) e igualmente confirmada pelo papa João Paulo II na sua carta apostólica “ A Dignidade e a Vocação da Mulher”.

Tendo em atenção ao acima exposto, comparando-o a realidade porque passa a mulher, nos mais variados níveis e estratos sociais, leva-nos a inferir que o ser humano, fazendo uso do livre arbítrio, rompeu com as normas emanadas de Deus, impôs a sua ordem e desarmonizou a convivência humana, criando um fosso nas relações, o que redundou numa espécie de desordem social que se materializa em violência contra a mulher, a que assistimos continuamente, cujas consequências podem ser notórias na vida familiar e na vida social, com prejuízos inimagináveis, tendo em conta ao rol de problemas sociais daí decorrentes.

Diante de tal constatação, como calar, vendo a mulher a ser objecto de prazer sexual, violentada física e psicologicamente, assumindo na família o duplo papel (paternal e maternal) na condução de lares mono parentais, instrumentalizada, fazendo do seu corpo objecto de publicidades imorais, marginalizada, excluída da participação política, económica etc, e muitas vezes oprimida até por costumes culturais e normas religiosas, apenas para citar algumas formas de violência e discriminação contra a mulher.

Considerando tudo isto, como uma desordem social, herdada de factores históricos culturais e religiosos, como calar?

Nós Missionárias Dominicanas do Rosário, temos responsabilidades acrescidas a este respeito. Não nos podemos calar, por inerência do nosso próprio Carisma, conforme consta das nossas Constituições:(Const: nº 9, pg 18) a mulher está incluída neste grupo de pessoas.

Não nos podemos calar por imperativo da missão:

……Ver tanta miséria, exige-nos maior entrega e leva-nos a ter um grande desejo de trabalhar para estas mulheres desconsideradas.
(Carta da M. Ascensão a M.Zubieta – 1915)

Como não nos comover, diante da sensibilidade da Madre Ascensão para com a mulher?Ela deve ser o nosso grande exemplo nesta empreitada.

Não nos podemos calar pela urgência em transmitir Jesus Cristo, que trás uma nova ordem na convivência Humana: A inclusão de todos, homens e mulheres, contrariando as leis vigentes no seu tempo! (Jo 4, 1-27).

Somos chamadas a colaborar na instauração e expansão do reino que Jesus veio implantar, um reino de inclusão, que faz de todos os seres humanos irmãos e iguais perante Deus. 

Somos pela graça de Deus herdeiras de um carisma que não nos permite calar, nem permanecermos indiferentes perante situações lesem a dignidade da mulher.

Tendo consciência disso, e identificados os factores que levam a violência contra a mulher, a questão que se impõe é: como contribuir para a redução deste fenómeno?

A nossa modesta sugestão, passa pela nossa inserção nos movimentos que lutam pela dignidade da mulher nos nossos respectivos países, que a nível da pastoral se incluam temas e debates entre homens e mulheres que tragam ao de cima as causas que levam a violência e as suas consequências, falar-se da importância dos dois sexos conviverem juntos, aceitando mútua e pacificamente as igualdades e as diferenças, não como causas de contendas, mais como factores de proximidade e de complementaridade, no trabalho com a mulher, fazê-la tomar consciência que ela é e deve sempre ser sujeito do seu próprio desenvolvimento, aconselhar a mulher a criar um ambiente familiar, baseado no respeito no amor e na inclusão, dar-lhe a conhecer os seus direitos e deveres, fazer com que ela exija a que sejam respeitados, tome consciência que os abusos exercidos contras si, são uma violação dos Direitos Humanos, e por isso puníveis por lei, conhecer a legislação a favor da mulher dos nossos respectivos países, para podermos ajuda-las a agir com respaldo na lei, auscultar, aconselhar e encaminhar, as mulheres vítimas de violência a instituições afins, denunciar todo o tipo de violência e discriminação contra a mulher
Como Missionárias Dominicanas do Rosário, sair em defesa da mulher que sofre injustamente pelo simples facto de ser mulher, é trabalhar pela sua promoção integral, é assegurar o cumprimento do nosso dever, da nossa missão e do nosso carisma.

Síntese elaborada  pela Ir. Maria Fernanda Sebastião

Reflexão das irmãs junioras participantes no curso de preparação par aos votos perpétuos. 2012 em Moçambique