Sínodo 2021-2024 – Síntese

Janeiro 1, 2023

“Foi-me pedido que apresentasse, nas Jornadas da Família Dominicana, que tiveram lugar em Fátima, no último fim de semana de novembro, que apresentasse o Relatório de Portugal – que tanto debate e polémica causou – que foi enviado ao Secretariado do Sínodo sobre a Sinodalidade, do Vaticano. Umas semanas depois foi-me pedido que fizesse a mesma apresentação, na Paróquia da Venda Nova. Foi uma apresentação que fiz com muito gosto, pois em ambos os casos, deu origem a muito diálogo, partilha e reflexão. Ir. Deolinda

SÌNODO 2021.2024

APRESENTAÇÃO DO RELATÓRIO SOBRE A IGREJA EM PORTUGAL ENVIADO A ROMA PELA CONFERÊNCIA EPISCOPAL EM AGOSTO PASSADO

Introdução

NOTA: Certamente todos sabem qual foi o percurso que se fez  – ou devia ter sido feito – até ao momento de se elaborar  este Relatório que foi enviado em agosto passado, pela CEP, a Roma.

Chama-se, ainda, a atenção para o facto de o Papa Francisco, ao anunciar este Sínodo sobre a SINODALIDADE, ter anunciado que o mesmo decorreria entre 2021 a 2023. Porém, devido , à importância do mesmo e à necessidade de que TODAS e TODOS nos envolvamos, acabou por considerar esse tempo insuficiente e alargou-o ao ano 2024.

Esta minha apresentação do “Relatório de Portugal” tem 3 partes:  1. Apresentação. 2. O que se disse e diz sobre o Documento. 3. Notas finais e algumas propostas 

A: Que Documento se trata?

-Fala-se do “Relatório de Portugal”, enviado a Roma, em agosto passado e que foi ou deveria ser a síntese dos Relatórios feitos por cada Dioceses. Por sua vez, estes deveriam resultar da síntese que os diversos Grupos paroquias, de movimentos, de pessoas que, espontaneamente. quiseram dizer o seu sentir e pensar, quer de modo individual, quer juntando-se com outros.

-Convém recordar que o desejo do Papa Francisco era que esta reflexão e debate chegasse a toda a gente, crente, não crente, de outras religiões e/ou afastadas da igreja

-Como foi elaborado?: Os Relatórios de cada uma das Dioceses de Portugal foram entregues a uma Comissão, creio que nomeada pela CEP, constituída por umas 11/12 pessoas, as quais todas leram, individualmente, os referidos Relatórios. Seguiu-se uma partilha comum, sobre o que a cada um/a apreendeu dessa leitura. O 3º passo foi constituir grupos de duas pessoas, e os Relatórios foram distribuídos por estes pequenos Grupos, que tinham como missão ler com maior atenção os Relatórios diocesanos que lhes tinha tocado e fazer as respectivas sínteses. Destas várias sínteses, resultou o Relatório final que foi enviado a Roma, que tinha que ter um limite de páginas…

 

B: Diversas opiniões

Quando ainda não tinha lido, nem sequer visto, o Documento, comecei a ouvir duras críticas e também alguns poucos elogios e, ainda, que teria havido um baixo assinado contra o mesmo. Claro que isto despertou o desejo e a curiosidade em mim e em muitas pessoas, de o ler e conhecer.

Comentando o assunto com o Fr. José Nunes OP e tendo-lhe sido pedido pelos organizadores das Jornadas Dominicanas, realizadas neste mês de novembro, em Fátima, que ele apresentasse o Tema da Sinodalidade, ele lembrou-se de me pedir que eu fizesse a apresentação do referido Documentos …

Então, para saber o que deveria apresentar, segui dois caminhos:

.Depois de ler o Relatório, tentar saber a opinião de pessoas que foram reflectindo e escrevendo sobre o mesmo.

2º. Enviar o Documento para bastantes pessoas conhecidas e amigas, pedindo-lhes que o lessem e me dessem a sua opinião sobre o mesmo.

Relativamente ao primeiro passo e a título de exemplo, ressalto duas opiniões:

1.1.A primeira é do Sr. Padre Alexandre Palma que escreveu na Voz da Verdade:

 “Eu, também sou crítico, de vários aspectos do Relatório, mas também sou crítico de várias críticas ao Relatório. Seria uma pena se as hesitações levassem a desconsiderar o que nele há de interpelação à Igreja que temos sido.

.De modo geral os elogios e as críticas ao Relatório concentram-se  no que nele é dito e na forma como é feito, mas além disso dá que pensar o que nele está ausente, como se nele houvesse coisas escritas com tinta invisível. Como exemplo, anoto aqui, somente, duas dessas ausências de que me apercebi quando  li os Relatórios de outros Países: não se fala nem nos Diáconos, – com uma pequeníssima referência no princípio -, nem nos Bispos –nomeiam-se 3 vezes -, não  se debruçando sobre o seu lugar na vida das comunidades. Isto acontece, talvez, porque também não tenha surgido nos Relatórios das Dioceses e isso pode ser grave”. 

1.2. A outra opinião é dos Padres Duarte da Cunha e Ricardo Figueiredo que dizem:

“A publicação do Relatório de Portugal” que representa um ponto de chegada dum percurso que passou pelas Paróquias e Dioceses de Portugal, causou perplexidade, o que levou a muita reflexão”. Como, segundo eles, muitos Católicos não se revêem nesse resultado, eles tentaram o enorme esforço, de fazer a leitura de todos os Relatórios de cada uma das Dioceses, para depois fazerem uma síntese dos mesmos, embora saibam que não é fácil sintetizar 21 Relatórios em poucas páginas.

Depois de fazerem a referida leitura, dizem que que lhes pareceu, embora não saibam porquê, que o Relatório de Portugal, não corresponde ao que estava nas sínteses diocesanas.

Se assim for, leva-nos a um profundo questionamento. (Digo eu)

Os dois Sacerdotes afirmam que tudo fizeram para que a síntese que nos apresentam, seja fiel ao que vem nos Relatórios Diocesanos e que não seja a opinião pessoal dos próprios

2. Respostas que me foram enviadas:

Foram umas 9 a 10 as respostas que recebi e várias dessas pessoas disseram-me que tinham lido e relido o documento, com muita atenção, e que tentaram responder com a maior sinceridade possível, apesar de nalguns casos, essas pessoas não estarem muito habituadas a estar atentas “às coisas da Igreja”, nem de fazerem, habitualmente, a leitura dos documentos eclesiais. Alguma dizia mesmo que era olhando desde fora que dava a sua opinião.

Para se ficar com uma pequeníssima ideia do parecer dessas respostas, direi que 3 pessoas disseram que gostaram muito do Relatório, que é um documento muito importante, lúcido, objectivo e muito completo. Que é duro com a igreja, mas contra factos os argumentos soam a falsos

Porém as restantes respostas, 6 ou 7, disseram que gostaram do documento, mas com muitos MAS… Houve uma que dizia que a primeira parte do documento,  em que a tónica é o negativo, lhe soava a uma lista do supermercado, e que isso já não acontecia na segunda parte, quando se trata das propostas. Estas reticências devem-se a muitos factores: acham, por exemplo, que o positivo e negativo não está contrabalançado; que há alguns exageros e falhas na parte negativa…

Devo dizer que o que estas respostas destacam muito é a descrição dos aspectos em que a Igreja se deve empenhar em melhorar.

Alguém contou e partilhou que o Relatório de Portugal, tem 20 aspetos negativos e dois positivos…

Porém, parece unânime, a afirmação que, a Igreja, no geral é aceite na sociedade civil, apesar de todas as suas falhas, de modo especial no campo sócio caritativo, escolar e…algum outro.

Dizia uma representante da Comissão que elaborou o Relatório, que aceitam todas as críticas e sugestões que foram e são feitas ao mesmo, pois, esse é o verdadeiro espírito e atitude que supõe a sinodalidade, mas que rejeitam “cartas abertas”, que não promovem, nem buscam o diálogo

C:  NOTAS FINAIS A DESTACAR

Todo este trabalho e pesquisa, só terá verdadeiro significado se o mesmo nos levar a olhar o futuro e a empenhar-nos seriamente para saber responder aos muitos desafios que nos são colocados.

É importante ter em conta que este Relatório de Portugal é, apenas o início desta caminhada sinodal, que surge numa altura em que a imagem da Igreja está muito debilitada e desfigurada, devido, entre outros factores, ao emaranhado de acusações de abuso sexual e, nalguns casos, devido à corrupção. Recordar que apenas 1,14% dos católicos participaram nos grupos de reflexão que conduziu a este documento e o número dos não católicos foi mesmo residual. Que somos muito acusados de não estarmos ao dia, relativamente, à realidade actual e aos avanços tecnólogos e que há muitas debilidades na formação, quer dos Sacerdotes quer dos Leigos. É insistente a afirmação de que temos muita dificuldade em contactar com o mundo dos Jovens, e em atribuir à Mulher o seu lugar na Igreja; que há bastante incoerência entre o que dizemos e fazemos e, ainda, que se tem que investir no estilo das nossas celebrações litúrgicas, das quais se destaca a Eucaristia.

Urge, como dizia, que, como Cristãos que somos e que amamos a Igreja, nos deixemos tocar por estas e outras urgências e desafios e que os vejamos como apelos à conversão, ao compromisso. Aliás o facto do Relatório “carregar tanto nas tintas” do negativo, deve, sem dúvida, fazer-nos pensar que essa conversão é muito urgente.

E: O QUE E COMO FAZER?

-Talvez lendo e aprofundando o Documento, quer de modo pessoal, quer, também, como grupo ou grupos que somos e dos quais fazemos parte. Por razões óbvias considero isto muito importante.

-Que vejamos toda esta polémica que se levantou em torno ao Relatório de Portugal, como algo muito positivo, pois despertou a consciência e interesse de muita gente e levou a que fosse lido e estudado com muita mais atenção e interesse

-Não deixando que tudo isto morra por aqui, – há várias pessoas que alertam para esse perigo -, mas também não se perdendo demasiado tempo, pois o caminho a percorrer é longo, tanto mais porque já foi enviado pela Secretaria Geral do Sínodo, do Vaticano, o Documento a ser agora estudado, a nível de cada Continente e que tem como título “Alarga o espaço da tua Tenda” (Is. 54,2)

-Pedindo a Deus o DOM da Sabedoria, uma Sabedoria que seja feita de exigência, de fidelidade aos verdadeiros valores do Evangelho, mas, em simultâneo, que saiba adaptar-se às realidades e anseios do nosso tempo.

-Estando nós aqui em contexto de Família Dominicana, de Portugal, devíamos, também  ver e reflectir, o que podemos fazer, como Família que somos.  É bom recordar que este “caminhar juntos”, faz parte do nosso Carisma Dominicano que visa, em comunidade, promover o debate, o estudo, para que se busque e atinja, dentro do possível, a VERDADE.

-Que agarremos as JMJ Lisboa 23, como uma excelente e, talvez única, oportunidade para uma verdadeira renovação da Igreja, sobretudo com relação aos jovens.

-Que consigamos animar e motivar muito mais gente para que se integre nesta Caminhada Sinodal, a qual é, sem dúvida, uma Luz e um Apelo do Espírito Santo, assim como nas JMJ.

-Finalmente, que vivamos em verdade e profundidade a nossa vida como cristãos e como Dominicanos, e que rezemos sem cessar por estas intenções.